03 O Colecionador de Tijolos
60p 1 cor + capas duplas 1 cor + sobrecapa 2 cores.
Obra originalmente publicada na 6 Pieds Sous Terre (2017) em França vê agora a sua primeira edição em português, Outubro 2019.
(...) Trata-se de um conto, no qual se acompanham personagens, conflitos e peripécias numa só narrativa. Se a cidade, alterada pelos efeitos da crise financeira e da mercantilização (o desemprego, a gentrificação, a especulação imobiliária), é o lugar e o pano de fundo em que o conto se desenrola, a arquitectura, como metonímia da construção e da criação, permanece na origem da banda desenhada de Pedro Burgos.
Valério, homem que já ultrapassou a meia-idade, fica sem emprego após o fecho do ateliê de arquitectura onde trabalhava. Decide, então, reabilitar a casa herdada dos avós para descobrir, incrédulo e revoltado, que foi ocupada por homens e mulheres sem-abrigo. Reagirá com violência, antes de perder os sentidos. Começa aí a sua derrocada existencial e espiritual: acordará, salvo pelos médicos, mas para se afastar do mundo (a cidade, cujo nome Pedro Burgos só revelará no fim), tornando-se no coleccionador de tijolos que os vizinhos e família observarão com piedade, receio e incompreensão. (...)
José Marmeleira in Público
podemos ler O coleccionador de tijolos também como um retrato da sociedade portuguesa durante os anos da crise financeira, cujas repercussões se fizeram sentir em aspectos bem mais profundos do que se poderia imaginar à partida. O livro é, assim, apesar da sua superfície narrativa, uma espécie de mapa concentrado dos traumas das transformações operadas na cidade.
Os portugueses, e os lisboetas em particular, passaram agora a andar ditosos com a procura turística. Não há cidade que aguente ou aeroporto que chegue para tanta oportunidade de fazer dinheiro. Pelo meio desta “avidez da ganhuça” – para citar o escritor anarquista Assis Esperança (1892-1975) –, haverá sempre tipos estranhos que recolhem tijolos, para desdém dos empreendedores e desgosto dos presumíveis herdeiros.
(...) uma parábola dos tempos que correm.
A leitura lembrou-nos por vezes o Will Eisner de The Building (...) de que já falámos; outras, a poética do franco-grego Fred, criador do maravilhoso Philémon. A edição é cuidada, com atenção aos pormenores (por exemplo, a analepse impressa em papel doutra cor). Mestria na composição, solidez de ponto de vista que não nos deixa indiferentes, humor e amor em doses comedidas – o que mais se pode querer de uma BD?
a oferta de Slow Motion, mini-zine em risografia limitado a 90 cópias encontra-se esgotada